Coxinha com coca-cola

A ditadura da magreza, desde que foi instaurada, sempre atingiu a todos de uma maneira ou de outra. Agora me atingiu. Eu sei que nunca serei magra, mas não quero mais esse corpo que insiste em ficar comigo. Além disso, chega uma época na vida da pessoa que ela tem que se comportar, ser mais serena, mais tranquila, mais saudável. Acho que chegou essa época pra mim.

E então, como qualquer pessoa sensata e instruída faz, comecei a malhar e a fazer dieta. E como uma pessoa sensata e instruída, ao invés de procurar um nutricionista, comecei a fazer uma dieta da proteína. Claro, porque uma pessoa sensata e instruída não precisa ir a nutricionista; faz ela mesma a sua dieta. E essa dieta da proteína não é aquela restritiva da moda em que a gente só pode comer proteína; é uma dieta mais ou menos equilibrada, com direito a verduras, muitas verduras, mas sem carboidratos, sem frutas, sem refrigerantes ou sucos, mesmo light e zero. Já é um sacrifício ficar sem frutas, sem pão então! Mas, sigo confiante no meu objetivo de durante quinze dias só comer proteínas e folhas, muitas folhas. Ah, sim e beber água, muita água. E começo a dieta.

O primeiro dia foi ótimo: segui a risca as informações no site de beleza e saúde de onde tirei a dieta e até tive disposição pra malhar.
No segundo dia, ainda seguindo a risca a dieta, no final da tarde me abaixei pra pegar qualquer coisa no chão e aí quando levantei vi pontinhos pretos em volta dos meus olhos e senti tontura. Cheguei em casa, comi um omelete de espinafre e fiquei bem. 
No terceiro dia, sonhei que estava comendo salgadinhos (sim, os proibidos salgadinhos) e acordei com fome, muita fome, apesar de ouvir relatos de pessoas que já fizeram essa dieta dizendo que não se sente fome. Não, fome, quando você está fazendo dieta, é psicológico! Enfim, tomei lá o meu café da manhã, sem pão, sem fruta, sem café e fui dar aula. Você pode estar pensando o que sobra pra comer se você não come nem pão nem fruta de manhã, não é? Tomei leite e comi um queijinho light. No final da aula, cerca de 3 horas depois de ter tomado o café comecei a me sentir cansada, fraca. Até diminuí o ritmo frenético que eu sempre tenho quando dou aula, mas fiquei bem. Acabada a aula, fui tomar um café e aí é que começa a melhor parte da dieta restritiva de carboidratos: comi um pão de queijo, minúsculo!, mas era um pão de queijo. Me senti menos culpada porque não tem glúten, o atual vilão da vida moderna e do bem-estar das pessoas de bem com a vida. Na hora do almoço, não resisti: coloquei arroz e feijão no prato; pouquinho, mas era arroz e feijão, além das folhas, muitas folhas e da carne magra. Me senti uma infratora, justificando para os meus colegas porque estava colocando arroz e feijão no prato, mesmo só um pouquinho, como se estivesse justificando pra mim mesma. Enfim, fazer o quê? De noite, pra voltar a seguir a dieta, fiz uma sopa de brócolis que só não ficou pior porque coloquei creme de leite por sugestão de um amigo que sabe cozinhar muito melhor do que eu e sabe das coisas boas da vida... E dormi sem culpa, pois os carboidratos que eu tinha consumido na hora do almoço já tinham ido embora!

Hoje, no quarto dia de dieta, eu acordei com fome, despertando de um sonho em que eu comia pão com presunto. E o pão estava tão gostoso, macio, quentinho, a manteiga derretendo... Mas era sonho. E aí, tomei o meu café de dieta: o leite e o queijo. O pão só ficou no sonho. E o pior de tudo, é que para eu mesma não me sabotar, não comprei nem pão nem biscoito. E não vou descer às 7:00 da manhã com uma baita fome no último lugar onde eu não posso entrar nos próximos dez dias, a padaria.

E essa minha fase "dietílica" me lembra uma história que meu pai conta da época em que ele começou a fazer dieta. Ele começou a fazer uma dieta macrobiótica, a crista da onda em termos de dieta, vida saudável e bem-estar no início dos anos 80. E não havia muitos restaurantes macrobióticos por aí, então, na hora do almoço, ele tinha que andar uns três ou quatro quarteirões do prédio onde trabalhava até o tal restaurante macrobiótico. Chegava lá comia brotos, arroz integral, soja, tudo temperado com gersal, essas coisas que macrobióticos adoram comer. E voltava feliz da vida para o trabalho. Quando dava umas três da tarde, ele sentia uma fome do cão e aí descia do prédio, ia numa lanchonete pé sujo que ficava no mesmo quarteirão e pedia uma coxinha com coca-cola! E voltava feliz da vida pra trabalhar.

E o que eu tiro dessa história? O que a Elis Regina cantava naquela música: "ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".... E eu só quero ter forças para resistir a coxinha com coca-cola nos próximos dez dias!

Comentários

  1. Pornográfica essa descrição do pãozinho quente com manteiga derretendo, salivei seriamente. Mas o problema da dieta é que funciona como tiro curto apenas, se quiser emagrecer rapidamente pra algum evento, sei lá. É insustentável passar o resto da sua vida comendo só isso, então você acaba recuperando o que perdeu depois de um tempo. O melhor é ponderar e fazer aquela velha reeducação alimentar, que te dará resultados sem tanta rapidez, porém mais sustentáveis. Imagina como fica nosso metabolismo, acostumado com uma certa alimentação e, de repente, a quantidade de comida, nutrientes e calorias, cai drasticamente. O estômago urra de desespero e a gente pira junto, tem que ser gradual. Então larga essa dieta maluca e vá numa nutricionista, você será mais feliz. E só aceite uma dieta que permita a cervejinha. hahaha

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  2. Acho que o Luiz já disse tudo o que eu queria dizer :)

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  3. Como fui citado nominalmente na sua infotunancia , lembro de um dia em que no restaurante macrobiótico experimentei um bife de soja. uma delicia, sequinho, crocante, tostadinho. tudebom. depois, ao pedir a conta, perguntei ao garçon como eles conseguiam aquilo. ahaaaaaaa farelo de soja com CALDO DE CARNE. desiti, parei com esse negocio de macrobiótica, vegetariano. agora sou da teoria da cadeia alimentar: as plantas "comem" sais minerais, "bebem" água e absorvem luz (daí, creio, algumas pessoas querem se alimentar de luz). varios animais comem as plantas, conseguem digerir a celulose e estão ótimos assim. os do topo da cadeia se alimentam dos que comem plantas e lá encontram tudo o que é necessario para ser feliz. como nao conseguimos digerir a celulose, não precisamos de folhas, só carne. mas vão bem umas fritas pra acompanhar. e quem resiste a uma estupidamente gelada?

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