Aprendendo a ler

Quando o David, o meu sobrinho liiiiiiiindo, começou a aprender a ler, ele ficava meio angustiado, pois ainda não conseguia ler tudo o que passava pelos seus olhos.
Um dia, ele me perguntou (bonitinho):

-- Tia Silvinha, será que um dia eu vou conseguir ler tudo?

E eu respondi:

-- David, vai chegar o dia em que você não vai conseguir não ler.

Obviamente o menino não entendeu o que eu quis dizer e fez aquela expressão que eu já conheço bem com a interrogação no meio da testa.

-- ????

-- Vai chegar o dia em que mesmo sem você querer, você vai ler. Vai passar uma placa, e você vai automaticamente ler. Vai passar um cartaz, e você vai ler. Você vai ler tudinho.

Passado um tempo, o menino vira pra mim e fala que o dia tinha chegado:

-- Tia Silvinha, agora eu leio tudo, mesmo sem querer!

***************

Eu fico aqui pensando que o fato de a gente não ter esse tipo de lembrança -- como é angustiante querer ler um cartaz de dentro de um carro em movimento e não conseguir -- faz com que a gente não valorize poder ler. Aí, tem um monte de coisa bacana pra ler, e a gente não lê, porque tem que ler o que é da obrigação. Mas nem o que é da obrigação a gente lê direito. E às vezes não lê tudo porque tem preguiça ...

Ainda bem que eu tenho o David pra me lembrar de coisas importantes como essa!

Comentários

  1. Preguiça, hein... Bom saber.
    Mas é verdade mesmo. Eu comprei um livro que eu estava louco para ler e não consegui ler uma página ainda.
    Nestas horas que eu penso como é bom ser criança.

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