Vida Acadêmica I
De uns tempos pra cá, comecei a sentir nostalgia da minha vida de estudante, especialmente a vida que eu levava lá na Unicamp. Como professora-doutora-orientadora eu vivo falando pros meus orientandos aproveitarem a vida de estudante, pois depois eles vão sentir saudade... E eu tenho sentido saudade das conversas, das aulas, das orientações e da loucura que foi, pra mim, fazer o doutorado na Unicamp.
E essa nostalgia tem me levado a contar as histórias que eu passei por aí, para pessoas que não viveram essas histórias. E eventualmente um ou outro me fala "ah, você deveria escrever isso". Então resolvi escrever.
E como só eu leio o que eu escrevo, eu resolvi escrever pra eu lembrar sempre, pois foi sem dúvida uma das melhores épocas da minha vida. W. Labov diria que se trata da síndrome dos anos de ouro: a gente sempre acha que a língua que se falava antigamente era melhor do que a de hoje; e, estendendo isso, a gente sempre pensa que a vida que se levava antigamente era melhor do que a de hoje. Não sei se minha vida como doutoranda, vivendo de bolsa e com um futuro incerto, andando de ônibus ou de carona, comendo no bandejão, achando que o meu trabalho nem era uma tese, era melhor do que a vida de hoje, de professora-doutora-orientadora. Mas que era boa era. Ah como era.
E pra começar a história, vou falar da dureza que era a vida acadêmica: era o primeiro semestre de 2000 e a gente tinha que ler "O Programa Minimalista". Então, eu resolvi comprar a versão do Raposo em português, porque, vá lá, ler o Chomsky não é fácil, e o Programa Minimalista então, nem se fala. Eu já tinha a xerox do original, mas queria a tradução do Raposo, com uma introdução do Raposo que não tem no original. Encomendei e comprei o livro. Estava toda feliz, com o livro recém-adquirido e encontro um colega que estava fazendo doutorado na IQ pra almoçar. E eu, toda feliz, conto pra ele sobre o livro e ele repara que meu tênis estava furado. Mas estava furado na direção do dedinho do pé, na parte do couro. Gente, buraco na sola do sapato é uma coisa, buraco no couro do tênis na direção do dedo mindinho é muito trash. Ninguém vê o buraco na sola do seu sapato, só você; mas no couro do tênis, todo mundo vê! E eu, que estava toda contente com a minha nova aquisição, logo fiquei meio envergonhada quando esse meu colega aponta o buraco do meu sapato e fala qualquer coisa sobre sapato furado e livro caro. E eu resolvi o problema falando: "É, prioridade é prioridade. Ainda posso andar com esse sapato, mês que vem eu compro um novo".
E essa é a dureza: vida de bolsista de doutorado em Campinas não era muito fácil e a gente tinha que escolher as prioridades. Mas foi bom.
Eu li o livro, o capítulo 4 ficou tão obscuro em português quanto ele já era em inglês e no mês seguinte comprei um tênis novo.
E essa nostalgia tem me levado a contar as histórias que eu passei por aí, para pessoas que não viveram essas histórias. E eventualmente um ou outro me fala "ah, você deveria escrever isso". Então resolvi escrever.
E como só eu leio o que eu escrevo, eu resolvi escrever pra eu lembrar sempre, pois foi sem dúvida uma das melhores épocas da minha vida. W. Labov diria que se trata da síndrome dos anos de ouro: a gente sempre acha que a língua que se falava antigamente era melhor do que a de hoje; e, estendendo isso, a gente sempre pensa que a vida que se levava antigamente era melhor do que a de hoje. Não sei se minha vida como doutoranda, vivendo de bolsa e com um futuro incerto, andando de ônibus ou de carona, comendo no bandejão, achando que o meu trabalho nem era uma tese, era melhor do que a vida de hoje, de professora-doutora-orientadora. Mas que era boa era. Ah como era.
E pra começar a história, vou falar da dureza que era a vida acadêmica: era o primeiro semestre de 2000 e a gente tinha que ler "O Programa Minimalista". Então, eu resolvi comprar a versão do Raposo em português, porque, vá lá, ler o Chomsky não é fácil, e o Programa Minimalista então, nem se fala. Eu já tinha a xerox do original, mas queria a tradução do Raposo, com uma introdução do Raposo que não tem no original. Encomendei e comprei o livro. Estava toda feliz, com o livro recém-adquirido e encontro um colega que estava fazendo doutorado na IQ pra almoçar. E eu, toda feliz, conto pra ele sobre o livro e ele repara que meu tênis estava furado. Mas estava furado na direção do dedinho do pé, na parte do couro. Gente, buraco na sola do sapato é uma coisa, buraco no couro do tênis na direção do dedo mindinho é muito trash. Ninguém vê o buraco na sola do seu sapato, só você; mas no couro do tênis, todo mundo vê! E eu, que estava toda contente com a minha nova aquisição, logo fiquei meio envergonhada quando esse meu colega aponta o buraco do meu sapato e fala qualquer coisa sobre sapato furado e livro caro. E eu resolvi o problema falando: "É, prioridade é prioridade. Ainda posso andar com esse sapato, mês que vem eu compro um novo".
E essa é a dureza: vida de bolsista de doutorado em Campinas não era muito fácil e a gente tinha que escolher as prioridades. Mas foi bom.
Eu li o livro, o capítulo 4 ficou tão obscuro em português quanto ele já era em inglês e no mês seguinte comprei um tênis novo.
nostalgia é algo bom, pena que não podemos ir a uma esquina em plena meia-noite, pegar carona em um carro e voltar ao momento que gostaríamos. =D
ResponderExcluirEssa eu ainda não sabia... Já vivi situações semelhantes e sei como é a sensação. Mas é bom olhar para elas do "agora" e ver que valeu a pena, não?
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