Marimbondo fanático sintático

Eu tenho pavor de marimbondo; aliás, como todo mundo deve ter. Mas eu acho que o meu pavor de marimbondo e de outros tipos de inseto acaba atraindo os bichos na minha direção. Como se eu tivesse um imã puxando os bichinhos pela antena com o ferrão virado pra mim.
E aí, o mico sempre é muito grande, especialmente quando o campo magnético de atração de marimbondo está ativado enquanto eu estou dando aula.

Era 2011-2 e eu estava dando aula de Morfossintaxe, na graduação. Eu sempre falo pros alunos que devem levantar a mão pra fazer pergunta e não me interromper; caso contrário eu perco o raciocínio. Bem, estava eu, lá toda toda dando explicação sobre sei lá o quê, quando uma aluna tenta me interromper. E eu falo "peraí rapidinho" e continuo com a explicação. Só que a aluna começa a ficar aflita, querendo interromper toda hora, e eu começo a ficar meio impaciente (eufemismo puro) com a garota toda hora interrompendo minha explicação.
De repente, a menina levanta a mão, aponta pro meu sapato e fala: -- Professora, um besouro!
Noooooosssa, eu comecei a berrar e balançar o pé desesperadamente até o besouro E-NOR-ME se desgrudar do meu sapatinho vermelho com lacinho. Ele estava subindo pelo laço do sapato, quase alcançando meu pé. Finalmente, o besouro se soltou do meu sapato e se agarrou na ponta do tablado da sala de aula.
Eu saí correndo em direção à porta! Afinal, se o besouro quer ficar ali, no meu lugar, não sou eu quem vai impedir. Da porta eu pedi socorro aos alunos:

--- Alguém, por favor, mata esse besouro pra aula continuar!

E um rapaz levanta e prontamente mata o bicho. Meu herói! É claro que eu tinha esquecido de dizer que poderia ser interrompida no meio de um explicação caso um bicho estranho, nojento, com ventosas nas patinhas, tentasse me atacar.

Mas esse ocorrido, nessa aula da graduação, me lembrou de um certo marimbondo numa aula que eu dei na pós-graduação.
Era meu primeiro curso de sintaxe como professora da Pós (estávamos em 2010-1). A sala de aula é pequena (não sei porque fizeram aquela reforma insana de dividir as salas ao meio.....) e a gente senta em volta de uma mesa. Quando eu entrei pra dar aula, vi que havia um marimbondo na janela. Fiquei prestando atenção pra saber se ele estava do lado de cá ou do lado de lá da vidraça. Estava do lado de cá, mas eu fiquei firme no meu propósito e obrigação de dar aquela aula. Afinal, não é um marimbondo fanático sintático que vai me impedir de dar a minha aula.
Enfim, a aula transcorreu normalmente, como toda aula deve transcorrer. E como eu sempre passo um pouco da hora, por volta das 13:15 vem uma professora falar comigo. Ela abre a porta e me avisa que quer falar comigo e pede pra eu passar na sala dela.
Acho que com a abertura da porta, o marimbondo se mexeu e resolveu voar. E o danado pousou onde?
Pousou justo no meu braço! Justo no MEU BRA-ÇO! Eu JU-RO que senti as patinhas dele na minha pele, virei pro lado e vi que ele estava lá, no meu braço, pronto pra dar o bote. Mas não deu o bote; porque eu berrei, mas eu berrei muito, me debati tanto pro bicho sair do meu braço, que ele foi parar, a-pa-vo-ra-do, no chão sob a janela.
Quando eu olhei, ele estava encolhido, com as asinhas fechadas, a cabeça voltada pro chão, pensando, se ele pensasse, que nunca mais entraria pra assistir aula de sintaxe comigo.
NUN-CA MAIS!

Fiz o meu escândalo básico, sim, paguei um mico gigante, um king-kong, na frente dos alunos. Mas o fanático sintático não me atacou.

Comentários

  1. Olha eu não vi cena da graduação, mas posso garantir que a da aula da pós foi mt mt mt engraçada...relembrar, agora, foi ótimo!!!hahahahahaha

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